apresentação do projeto

O trabalho com(o) fracasso é um projeto de pesquisa em artes que tem o fracasso como conceito norteador, compreendido como uma instância que propulsiona, integra ou repercute nos trabalhos e nos gestos artísticos. Como aponto na introdução, a primeira tarefa da pesquisa foi torcer e estender a acepção habitual de fracasso como mera diferença entre projeto-resultado, como ponto final e negativo de um empreendimento, como oposição a um sucesso.

O ponto de partida da pesquisa é a minha própria produção como a artista, onde o fracasso começa a ser investigado. A partir desse processo se estruturam as aproximações com a produção de outros artistas, bem como a leitura de autores e escritores que se dedicaram a pensar o tema do fracasso.

A metodologia adotada foi a de um trabalho em poéticas visuais, um entrecruzamento entre a prática artística e a sua reflexão teórica, em que o artista desenvolve seu trabalho, escreve sobre seu próprio processo, observando e descrevendo seus procedimentos e conceitos e, simultaneamente, estabelece diálogos com outras referências teóricas e artísticas.

O projeto foi desenvolvido ao longo do segundo semestre de 2012, incluindo uma pesquisa sobre trabalhos realizados desde 2002, trabalhos desenvolvidos durante o período, especificamente para o projeto, e uma reflexão sobre o tema a partir de leituras e conversas com outros artistas e pesquisadores. 

Sem obedecer necessariamente uma estrutura linear, a pesquisa contou com as seguintes etapas: pesquisa, análise, elaboração de relatos e reflexões sobre o fracasso no trabalhos artísticos; levantamento e revisão bibliográfica e artística sobre o tema; entrevistas e coleta de dados junto a outros artistas. Nesta etapa, colaboraram de forma especial, através de encontros, conversas e troca de emails, os artistas Julia Amaral, Bil Lühmann e Giorgio Filomeno. As pesquisadoras, Ana Lucia Vilela e Raquel Stolf, também trabalharam no projeto, contribuindo para a discussão do conceito e organização do livro e desenvolvendo textos especificamente sobre o tema para a publicação.

O formato de um livro foi a estratégia escolhida para a apresentação e condensação dos conteúdos pesquisados. A concepção e edição do livro procurou evitar a estrutura mais convencional de uma simples coletânea ou de um catálogo, mas assumir o desafio de construir um pensamento no formato-publicação. Assim, a organização levou em consideração as especificidades e potenciais da publicação de artista, de forma que o livro é, neste caso, simultaneamente, o ‘produto’ de uma pesquisa e um trabalho artístico. 

Mais que classificar e/ou mapear exaustivamente o fracasso na produção artística, o livro apresenta 4 blocos:
parte 1: uma reflexão introdutória, texto de apresentação de Ana Lucia Vilela e de Raquel Stolf,
parte 2: relatos sobre os trabalhos,
parte 3: um inventário de coisas não feitas, projetos impossíveis ou que não deram certo, cuja redação foi desenvolvida a partir da pesquisa realizada nesta série de leituras e entrevistas com outros artistas e pesquisadores,
parte 4: relatos de trabalhos não realizados pela artista.
vocabulário:  uma edição de desenhos desenvolvidos durante o processo de pesquisa, como parte do projeto.

Editado como uma narrativa, inacabada e incompleta, o livro reúne diálogos e pontos nodais para um processo de pensamento em torno do fracasso. Ou seja, não há conclusão nem prescrição, mas relatos sobre coisas recebidas/vistas/ouvidas/lidas/lembradas em torno da potência do que não foi (pensando no que ainda não se começou ou naquilo que não se pode terminar).

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Aline Dias é artista, atualmente Doutoranda em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, em Portugal - bolsista CAPES Proc. n.1107/12-7. É Mestre em Poéticas Visuais (Universidade do Rio Grande do Sul) e Bacharel em Artes Plásticas (Universidade do Estado de Santa Catarina). Integrou a equipe técnica do Museu Victor Meirelles / IBRAM entre 2003-7 e 2009-10. Realiza pesquisas, curadorias e projetos editoriais, destacando-se a organização do livro cadernos de desenho, contemplado pelo Edital Elisabete Anderle, 2009, o documentário asp.doc, contemplado no V Prêmio Funcine, bem como as recentes curadorias desejo do verme (Memorial Meyer Filho) e papel de desenho (Circuito de Itinerância SESC-SC 2012-15). É integrante da Corpo Editorial, através da qual co-organiza a revista bolor. Entre suas exposições destaca-se a mostra individual ficar de pé n.2 no Museu de Arte de Santa Catarina, cujas obras passaram a integrar o acervo deste museu, através de recursos do Prêmio Marcantonio Vilaça da Funarte 2009.
Contato: alinemdias@hotmail.com